top of page

Habitus

O conceito de habitus aparece já na antiguidade na obra de Aristóteles com o nome de hexis, para designar as disposições adquiridas do corpo e da alma. O termo foi traduzido para o latim “habitus” por São Tomás de Aquino, com o sentido de disposição durável. Émile Durkheim utiliza o termo para designar maneiras de ser que são homogêneas e estáveis: podemos constatá-las nas chamadas sociedades tradicionais ou em universos fechados, como mosteiros ou internatos. Marcel Mauss, seu sobrinho, aplica o termo às montagens de atos que tornam possível a fixação das técnicas corporais.

​

Segundo Norbert Elias, o habitus está ligado a maneiras de pensar e agir que estruturam uma sociedade em torno de uma racionalidade própria. Já para Pierre Bourdieu, habitus é uma estrutura estruturada e estruturante das ações individuais. Ela é uma estrutura, pois organiza a compreensão e as ações do indivíduo. É estruturada, pois a forma de compreensão e de ação disponível é socialmente desenvolvida; e é estruturante, pois passa a organizar as experiências futuras do indivíduo, e pode repercutir sobre a estrutura que a originou. Quando um indivíduo age, ele coloca em movimento uma série de disposições incorporadas a partir de sua posição na estrutura social, e acaba por refletir as limitações que são impostas à sua identidade.

​

Em Hybris RPG, habitus é o mecanismo operacional das ações das personagens e determina o tipo de ação que a pessoa tem maior ou menor facilidade em realizar, levando-se em conta a sua relação com determinados ethos, tais como sejam valorizados pelo grupo dominante, pelo grupo ou pela personagem. É a partir de um habitus que uma personagem pode utilizar a hybris de seu grupo, e interferir sobre o destino de sua vida, a de seus philoi, e mesmo sobre o destino político de seu grupo.

​

No sentido em que empregamos o termo, os habitus dizem respeito a toda ação socialmente relevante dos personagens. Nos Ensaios de Montaigne e nos estudos históricos de Maquiavel, temos uma série de relatos sobre o sucesso e o fracasso de empreitadas militares que tiveram relação com atitudes e disposições específicas dos agentes ali envolvidos: o medo e a capacidade de controlá-lo, a soberba e a capacidade de estimar suas consequências, acabam levando a resultados diferentes em cada situação.

​

Em uma famosa passagem da Ilíada, o exército grego pensa em abandonar a guerra, até que Odisseu faz um discurso e consegue comandar os soldados para que eles continuem na guerra. Nos livros da série As Crônicas de Gelo e Fogo, o personagem Theon Greyjoy fracassa em sua tentativa de usurpar Winterfell. No livro O processo, o personagem Josef K. não consegue se libertar. Na série de filmes Matrix, o personagem Neo consegue executar seu plano ao conciliar seres humanos e máquinas.
 

bottom of page