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Bios

A palavra bios em grego significa vida. Outra palavra que designava vida era zoé. Para Aristóteles, a zoé estava relacionada com a mera existência, enquanto bios compreendia o pleno modo de vida desenvolvido pela pessoa. Daí que a descrição de uma vida seja chamada de biografia. Dentro da perspectiva da cidade-estado grega, a bios estava relacionada com a organização coletiva dos indivíduos em uma sociedade que visasse a felicidade.

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Em Hybris RPG, a bios de um personagem está relacionada com os estímulos positivos ou negativos que ele recebeu do grupo dominante, de seu próprio grupo, ou de seus interesses individuais, para valorar tais ou quais ethos. Ela representa a cristalização atual do percurso biográfico anterior do personagem, na forma dos valores centrais que orientam a sua conduta aqui e agora – mas que podem vir a mudar futuramente. A bios evidencia o quanto os ethos dominantes se impõem sobre todos os grupos, e acabam por tornar as ações dos indivíduos mais ou menos contraditórias em relação aos seus interesses, e mesmo aos de seu grupo. Ela é responsável por representar a trajetória individual de um personagem. 

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Para Laura Bazzicalupo, a hybris está relacionada à bios. Ou seja, a hybris está intimamente ligada à história individual. Alexandre, o Grande, por exemplo, recebeu todos os estímulos do grupo dominante, que era o seu próprio grupo, e identificou-se com seus valores em sua posição pessoal. Karl Marx percorreu uma trajetória biográfica que o levou a identificar-se cada vez mais com os valores de uma classe que não era a sua, e até a reformulá-los. Isso o levou a enfrentar perseguições políticas e uma situação econômica precária por anos a fio. Tiago Marques Aipobureu, um bororo cuja vida foi estudada por Florestan Fernandes, terminou por ser marginalizado em dois grupos diferentes após abandonar sua comunidade de origem e ser introduzido a uma educação em moldes europeus. Ele reteve, como ethos individuais, um misto mais ou menos contraditório dos valores que assimilou no contato com cada grupo.

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No livro O coração das trevas, o inglês Charles Marlow vai em busca do comerciante Kurtz, que teria sumido entre os nativos. Após encontrá-lo, percebe-se que Kurtz já não concordava mais com os ethos do grupo dominante, o que criava nele uma sensação de horror. No filme Nós que nos amávamos tanto, os personagens Antonio, Gianni e Nicola desenvolvem ethos diferentes durante suas vidas. O ethos do grupo dominante apresenta-se em todos, mas cada um acaba por adaptar seus ethos individuais aos de seu grupo.

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O personagem Finn, da série Star Wars, rompe com o ethos do grupo dominante e acaba mudando de grupo, tornando-se um rebelde. Já o personagem Anakin Skywalker, sofre uma inversão no sentido contrário: deixa os valores dos jedi e alinha-se com os do então grupo dominante, os sith e o império. Em Dragon Ball o personagem Son Goku, ao ser criado por seu avô adotivo Son Gohan com ethos terráqueos desde bebê, cresce sem conhecer os ethos valorados pelo seu grupo original, os violentos Saiyajins, e torna-se um pacifista. Nos livros da série As Crônicas de Gelo e Fogo, o personagem Tyrion Lannister rompe com o ethos de sua própria família, o grupo dominante, e sai em busca do seu próprio caminho em outro continente.
 

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